Homem
de fé, firme como a rocha
O Reino anunciado por Cristo é um Reino exigente.
“Ou
Deu ou as riquezas”. “Não se pode servir a dois senhores; ou se dedicará a um
em prejuízo do outro” ou vice-versa (cf. Lc 16,13)
“Quem não é por mim, é contra mim.” (Mt 12.30).
Cristo é categórico nas suas afirmativas. Não deixa engano!
Em outra ocasião diz: “não é o que diz Senhor, Senhor... mas
o que realiza a minha vontade, este é o que se salvará” (Mt 7,21).
E, ainda, “todo aquele que ouve as minhas palavras e as observa
será semelhante ao homem sábio, que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a
chuva, e transbordaram os rios, e sopraram os ventos, e investiram contra
aquela casa e ela não caiu porque estava fundada sobre a rocha” (Mt 7, 24-25).
O Padre Siqueira, compreendendo estas coisas, jamais
deixou-se levar por doutrinas alheias àquelas ditadas por Cristo.
Mas, juntando todos estes elementos, senta-se como o “homem
sábio” do Evangelho e na meditação vai considerando tais coisas e aplicando-se
à sua vida, calculando e medindo suas possibilidades, decide-se a enfrentar
qualquer dificuldade, a fim de realizar o que sente ser plano de Deus e seu
respeito.
A palavra do apóstolo São Tiago em sua carta calara
profundamente em sua alma: “Se alguém disser que tem fé, mas não tem obras, que
lhe aproveitará isso? Se um irmãos ou irmã não tiverem o que vestir e lhes
faltar o necessário para a subsistência de cada dia e alguém dentre vós lhes
disser: ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos, e não lhes der o necessário para
a sua manutenção, que proveito haverá isso?
Assim também a fé, se não tiver obras, será morta em seu
isolamento” (Tg 2, 14-17).
Assim é que ao presenciar alguns fatos resultantes da guerra
do Paraguai ele escreve: “Meu Deus! Quantos infortúnios eu presenciei! Quantos
insultos àquelas pobres viúvas!... Não! Disse eu, não é possível conter os
impulsos do meu coração! Não há para mim maior sacrifício!”
E decide-se a fundar uma Casa de Educação, a Escola
Doméstica de Nossa Senhora do Amparo, destinada a meninas pobres e órfãs onde
pudessem encontrar, além do lar que a miséria lhes roubou, também toda uma
educação para o trabalho e para a vida.
É então que, em junho de 1867, deixando com um outro Padre a
Paróquia de São José da Paraíba, Estado de São Paulo, onde trabalhou durante um
ano, parte para Minas em companhia de uma família amiga. Permanece aí três
meses nas águas medicinais, nas proximidades de Baependi, cuidando um pouco da
saúde abalada. (....)
Sua fé já se mostrava uma das características mais
acentuadas de sua personalidade.
De Baependi, segue ele para o Rio de Janeiro, onde passa
dois meses, “sem dar passo algum”, conforme ele mesmo escreve, “porque as
dificuldades que surgiam eram tantas que parecia impossível agir em semelhante
época”.
Continua ele: “quis tomar um emprego com o fim de esperar
mais algum tempo, porém consultei algumas pessoas e o meu próprio coração e
tirei como resultado dar começo à obra sem atender mais a dificuldade alguma”.
É daí que vai ao imperador D. Pedro II de quem recebe uma recusa.
Ora, este consentimento do Imperador era essencial para a
criação da sua Escola, sem o que nada podia ser feito.
Padre Siqueira não sabe o que fazer, Recusar? Ir adiante?
Mas, tomando como escudo a palavra de Cristo, “sem mim nada
podeis fazer” (Jo 15,5), para e recolhe-se no seu interior.
A sua firmeza vem do Senhor!
Reza, sofre, reflete!
E decide a continuar.
Lê-se em seu diário: “entretanto, escrevia meu programa,
consultava, examinava, etc. Passados quase três meses apresentei-o a Sua Majestade
(em 15-07-1868), deixando-o em suas mãos por espaço de dois meses, findos os
quais, deferia Sua Majestade, respondendo-me que a ideia era boa e humanitária,
porém dificílima, mas que eu desse começo”.
E desta maneira o homem de Deus, o Profeta do Senhor, vai prosseguindo
na sua firme ideia, construindo-se a si mesmo, alicerçando cada dia sua fé em
Cristo, seu rochedo e sua segurança.
Assemelhando-se a João Batista, o Padre Siqueira não é “caniço
agitado pelo vento” (Mt 11,7).
Mas em Cristo é aquele homem corajoso, destemido, seguro do
que pretende, não se desviando da rota que leva ao porto desejado.
Não vacila um momento sequer. Cedo aprendeu a assumir a vida
como um dom de Deus, vendo tudo como um presente amoroso deste Deus que é bom
Pai, chegando ao ponto de poder afirmar, meses antes da morte, no seu
Testamento: “se algumas privações e contrariedades sofri, as recebi sempre como
benefícios do céu.”
Fonte:
Padre Siqueira -
Vocação e Compromisso de Profeta
Irmã Jacinta
Medeiros Gurgel-cfa