Solenidade da Imaculada Conceição: 160 anos de Ordenação Sacerdotal do Servo de Deus Padre Siqueira – (1864-2024)
As redes dos pescadores
simples do Vale do Paraíba, jogadas nas águas do rio trouxeram à tona, primeiro
a cabeça, depois o corpo, da Imaculada Conceição. Estamos falando de um Vale de
Fé. Um vale que sempre criou expressões para dizer que a Imaculada tem seu
espaço, seu lugar e seu trono. Esse é o grande milagre de Aparecida: trazer de
novo, para bem perto do povo, a sua maior riqueza: a sua Mãe!
Não existe expressão de
fé sem Mãe! Deus é Pai e Mãe! Somente uma experiência como essa atravessa a
história de um povo e cria no Vale do Paraíba um povo forte na fé e na
consciência... Somente desta tradição e deste lugar poderia nascer um homem
como o Padre João Francisco de Siqueira Andrade e uma mulher como Irmã
Francisca Pia. Os dois cresceram e amadureceram na fé e no ambiente da
Imaculada Conceição – pois ela é a padroeira da cidade de Jacareí/SP. Ser
ordenado nesta solenidade não é mera coincidência e sim um vínculo afetivo e de
fé para com a Mãe de Deus.
A Imaculada da Conceição,
a Imaculada Maria do Povo, a Imaculada do Amparo, significa este jeito com que
Deus nos toca e se aproxima. Em Maria nós buscamos o carinho de Deus, este
ideal de intimidade e harmonia com o Deus da Vida. Em Maria nós voltamos à
pureza do humano. Na Imaculada nós voltamos à manhã original da Criação.
Lembremo-nos as palavras
do Servo de Deus Padre Siqueira: “formar
a mulher de modo a tornar-se uma digna mãe de família e implantando em seu
coração os princípios religiosos de uma moral sã. Porquanto, a mulher é tudo no
mundo. Direi que o homem será em todos os tempos o que a sua mãe quiser que ele
seja, viverá e tornará obra os preceitos supostos por ela” (Cf, OSE, 46).
Percebamos a lógica do amor de Deus: no
vale da fé, a imagem da Imaculada sai do lodo da injustiça, recebe o manto do
valor das qualidades da fé de seu povo, que recupera e visualiza aquilo que
crê, coloca novamente no altar e vai lá para ser igualzinho a sua Mãe. No altar
de hoje, milhares de pessoas vão à Aparecida, para refazer este humano destruído,
despedaçado, desesperançado, que precisa de cuidado e da existência concreta de
um Deus que se faz Mãe.
Também deste Vale da Fé
saíram Pe. Siqueira e Ir. Francisca Pia; subiram as montanhas de Petrópolis e
jogaram as redes nas ruas da cidade imperial, às margens do Piabanha, para
trazer novamente para a vida, as ingênuas, as desvalidas, aquelas meninas
filhas dos grandes senhores, dos nobres, daqueles que tinham posição e status
no Império, que faziam filhos e filhas com as escravas para depois abandoná-los
à própria sorte. Quando vem a Lei do Ventre Livre, ignoraram esses filhos
considerados bastardos, rejeitaram, abandonaram para que a nova Lei e a nova
sociedade não percebessem que a nobre família tinha uma mancha de ter uma filha
com escrava... E aquelas meninas abandonadas, deixadas ao léu, deixadas nas
ruas de Petrópolis são recolhidas por quem? Por um filho do Vale da Fé, por um
filho da Imaculada: O Padre Siqueira.
Maria, a eternamente pura
e imaculada, a simples, a transparente, a mulher verdadeira, esposa e mãe,
reveladora da verdade sabe que amar intensamente é não dar espaço para o mal,
para o erro, para a injustiça e para o pecado. Mãe, abençoe e proteja a obra
iniciada por Padre Siqueira. No dia em que celebramos a beleza deste dogma de
fé: mistério que se encarna e se diviniza revelando assim a fecundidade de
Deus, peçamos a Mãe Imaculada que germine esta obra do Amparo; que faça brotar
da fecundidade escondida da semente, o sonho do Pe. Siqueira: conduzir pelos
caminhos do Amor!
Trecho da Homilia do Frei Vitório
Mazzuco, OFM, proferido na Matriz da Imaculada Conceição – Jacareí/SP, em 8 de
dezembro de 2004.
Adaptação:
Ir. Maria Aparecida Santana de Souza, CFA
Fonte:
Revista do Centenário da Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora do
Amparo