Homilia de Dom Joel por ocasião da Missa em memória ao Servo de Deus
Padre Siqueira (Capela da Casa Mãe / Petrópolis - RJ – 10/04/2025)
Minha Irmãs e
meus irmãos, junto com todas as intenções que foram trazidas, que a Irmã que
nos acolheu, recordou e destacou, no início, sem dúvida, o que nos reúne hoje
aqui é uma grande ação de graças a Deus, pela vida do Padre Siqueira e tudo
aquilo que ele semeou, tudo aquilo que ele deixou. Já se vão aí 144 anos de sua
morte e a obra aqui, está com tudo aquilo que significa de um sonho que
nascendo no coração de Deus é acolhido por um coração generoso, que toca outros
e com isso leva tanta coisa bonita pra frente. A liturgia de hoje nos
apresenta, Abraão que ouve o chamado de Deus, que responde ao chamado de Deus e
estabelece com Deus uma aliança. E nessa aliança nós vamos entender o que
acontece com toda pessoa de fé, o que aconteceu com Padre Siqueira e que somos
nós convidados a deixar que aconteça conosco. No fundo se pode dizer que Padre
Siqueira viveu na fé de Abraão, não aquela fé mal compreendida, atrapalhada,
que no tempo de Jesus acabou se tornando cega e incapaz de reconhecer aquele
que era a expressão maior do amor do Pai, na força do Espírito, que ali estava
no meio deles. O evangelho mostra uma rejeição tão grande que chegam a tentar apedrejar
Jesus. Nesse sentido, ser da linhagem de Abraão na fé, ser da fé de Abraão, é o
que se espera de Padre Siqueira e de nós. E é muito interessante a verdade, na
chamada fé de Abraão. E hoje de manhã rezando um pouco e revendo uma parte
pequena da biografia de Padre Siqueira, o
sonho de Deus é sempre maior do que aquilo que os nossos olhos podem contemplar.
Quando nós lemos a primeira leitura, é impressionante para aquele homem no deserto,
aquele homem sozinho com seu grupo, seu clã. sem dúvida, mas era ele. E a
promessa é: “Eu vou te fazer pai de uma grande multidão. Eu vou te dar terra”. E
uma palavra tocou no meu coração ao longo desse dia todo, hoje, e eu a partilho
com vocês agora. Que desproporção entre aquilo que os olhos veem e aquilo que
Deus sonha. Como é que se juntam as duas coisas? Quando corações generosos,
tocados pela graça, deixam que essa graça nos toque mais ainda e vão em frente,
do mesmo modo como Abraão. São Paulo vai dizer: Abraão acreditou, teve
esperança contra toda a esperança mesmo (...) não acreditou quando todos ou
pelo menos a maioria das cidades dizia, não vai dar certo, não é por aí. Quem
conhece a história do Padre Siqueira sabe ver dele um homem que seguiu essa
mesma fé que marcou profundamente Abraão, que é o tema da primeira leitura de
hoje. Vocês conhecem melhor do que eu. A biografia desse homem que vem para Petrópolis
para se tratar, ele vem para se cuidar. Ele vem, se eu posso usar a linguagem
dos nossos dias, ele vem para cuidar dele. E quando ele chega aqui, o que é que
ele fez? Ele pensou nele? Se eu compreendi a leitura que fiz; ele vê toda aquela
situação, aquele regime de escravatura que ia se ruindo. Graças a Deus que ele
percebe, apesar das suas limitações de saúde, ele percebe que há muito o que se
fazer aqui! E ao perceber, eu posso dizer, é a voz de Deus falando naquele
coração. Assim como a primeira leitura fala a Abraão, a assim também quando ele
chega em Petrópolis para cuidar de si, pensar em si, foi a única coisa que Padre
Siqueira não fez, foi pensar nele mesmo, foi não olhar para a sua dor, não olhar
para sua limitação de doença. É impressionante como começa a expressar na
caridade o amor infinito de Deus. E se ele dissesse: sim eu vejo os problemas,
mas eu não posso, eu estou limitado, eu tenho que me cuidar primeiro, mas isso
não existiu, porque ele percebeu no caminho de fé, ele percebeu o quanto era
fundamental responder no amor, ao chamado amoroso de Deus. E se olharmos a
palavra de Deus de hoje, Padre Siqueira está na esteira de Abraão e de tantos
santos e santas. E é um daqueles homens que deve marcar profundamente a nossa
vida hoje, num tempo em que nós somos tão auto referenciais, tão voltados para
nós mesmos, para nossos sonhos, para nossas expectativas, para nossas dores,
que são reais, eu não discuto isso, mas maior do que tudo isso é o amor
apaixonante de Deus que nos empurra na direção dos irmãos e irmãs, em especial
os necessitados. Vejam, 144 anos! Só pensar na história das Irmãs Franciscanas
de Nossa Senhora do Amparo, o quanto já foi feito ao longo desses anos. Não
podemos ver aí uma analogia da grande descendência que Deus prometeu a Abraão?
Não está em cada um, em cada uma que já passou por aqui, o que Padre Siqueira
sonhou não está aqui cumprido no seu carisma, não está aqui a promessa feita a
Abraão? Quando no final da primeira leitura, Abraão se curva diante de Deus, se
coloca diante de Deus. Hoje de manhã eu imaginava o que deve ter acontecido no
coração e na mente de Padre Siqueira o se curvar diante de Deus. É claro, que
já naquele momento e muito mais depois, as irmãs que seguem o carisma do Padre
Siqueira e todos nós em nossas vidas também, vamos dizer assim, aconteceu tanta
incompreensão, que é o que vimos no evangelho de hoje, o que ocorre quando os
judeus naquele tempo se voltam para Jesus e não reconhecem o amor de Deus
presente de modo radical em Jesus, não reconhecem que ali está o Messias. É
possível que quem conhece bem um processo de beatificação e canonização, quando
no futuro dermos esses passos, nós vamos ver o quanto Padre Siqueira deve ter
encontrado, quantas dificuldades. O quanto as irmãs, para cumprir o carisma, o
quanto que elas também tiveram que lutar, quantas dificuldades e acima de tudo
quantas incompreensões. Lendo a biografia de Padre Siqueira, uma coisa me
chamou atenção. Depois me digam se eu entendi correto. Mesmo doente, mesmo
limitado, esse homem monta no cavalo e vai pedir esmola, donativo, ajuda,
porque ele sabe que a vida dele só tem sentido quando for resposta ao amor de Deus.
E Deus acolha as nossas orações de ação de graças por Padre Siqueira e por tudo
aquilo que ele plantou. Que a partir desta casa se aumentem as orações por sua
beatificação, por sua canonização e que cada um de nós, no carisma que tem,
respondendo a Deus, na vida onde o bom Deus nos quer, possa caminhar em
santidade. Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.
(Transcrição
feita a partir de recursos audiovisuais)